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Maternidade sincera: Parto humanizado e empatia
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Falar de parto sempre rende muito assunto. Seja em uma roda de conversa, uma reunião com amigos e familiares ou numa consulta médica. Todas as pessoas tem curiosidades acerca do nascimento, inclusive do seu próprio, fazendo do relato uma experiência que pode trazer vários sentimentos. Tem coisa melhor do que saber que o dia em que você chegou ao mundo foi especial?
No maternidade sincera de hoje reunimos relatos de mães que optaram por realizar o parto humanizado, um tema que vem sendo amplamente discutido e que gera inúmeras dúvidas. E pra explicar melhor sobre o assunto, convidamos a médica obstetra Caroline Chiarelli.
Parto humanizado e empatia
A humanização do nascimento é ancorada em três pilares: o protagonismo da mulher, atuação de equipe multidisciplinar e condutas conforme evidências científicas. Atualmente existe um movimento feminino com nuances feministas onde percebemos o desejo das mulheres de vivenciar o parto sem intervenções, respeitando o tempo fisiológico de uma gestação e do nascimento sem interferências desnecessárias ou medicalização, e, muito menos, uma via cirúrgica por opção.
Informação é o melhor caminho
Sendo o Brasil um país extremamente cesarista, são encontradas muitas dificuldades para acontecer esse tipo de parto. Dados do Ministério da Saúde apontam que mais da metade dos partos no país (55,5%) são cesáreas. Portanto, informar-se e empoderar-se das suas escolhas é a maneira mais coerente e facilitadora para chegar no desfecho de um nascimento com base na linha da humanização, o que já é rotina em países desenvolvidos.
Diante dessa procura, várias equipes multiprofissionais, compostas por enfermeiras obstetras, médicos obstetras e pediatras, consultoras de amamentação, doulas e educadoras perinatais, psicólogas, nutricionistas, fisioterapeutas e outros, estão se organizando, com o objetivo de promover e garantir que o plano de parto dessa gestante seja seguido.
Quem se disponibiliza a atender nessa modalidade sabe que detalhes muito pequenos podem favorecer a experiência satisfatória que tantas famílias procuram, como por exemplo, exercícios que facilitam a posição do bebê no útero, o cuidado em manter o ambiente acolhedor - preferencialmente em penumbra, com privacidade, o espaço para que a gestante possa escolher a posição mais confortável, massagens e banhos para alívio da dor, manter o bebê o tempo todo com a mãe e outras práticas que requerem apenas um olhar mais amoroso que o momento necessita. E tudo dentro de uma esfera extremamente técnica, garantindo a segurança de mãe e filho.
Atenção especial para cada mãe
Apesar do parto provocar felicidade e emoção únicas na vida das pessoas, a boa assistência jamais deverá ser negligenciada. A grande maioria das parturientes apenas necessitarão de atenção e cuidados para que sejam encorajadas a vencerem as etapas do trabalho de parto, visando que cada indivíduo reage de formas diferentes a todo o processo. O parto envolve, além de mecanismos hormonais e físicos, uma importante influência psicológica, sexual e até mesmo espiritual. Cada mulher deverá ser respeitada de forma holística.
É dever da equipe assistente reconhecer o que pode interferir ou o que se apresenta de forma anômala no trabalho de parto e informar o casal caso seja necessário uma real intervenção, que pode ser desde algo mais simples, como alguma medicação, até a indicação de uma cesariana, sempre sustentado pelas evidências científicas sólidas e conhecidas.
Podemos perceber que mulheres que têm a oportunidade de passar por um parto com respeito e uma recepção adequada do bebê, referem muita satisfação e alegria, atravessam o puerpério de forma mais leve e fácil, amamentam com maior facilidade e segurança e nitidamente desejam repetir a experiência.
Caroline Chiarelli
Médica Obstetra da Equipe Maternalle
CRM 24856
equipematernalle@gmail.com
(51) 37551348
@equipematernalle
"Ao som de Nando Reis e Anitta"
Fotos: Arquivo pessoal
Olá, eu sou a May Mussoi, tenho 30 anos e sou a mãe do Pedro que hoje está com dois aninhos. Sou casada há quatro com o Daian, mas nossa história completou dez anos em junho de 2020. Vim contar para vocês o momento mais intenso, mais cheio de amor, de força, dor, fé e alívio que já vivemos juntos! Sim, juntos! Pois o nascimento do Pedro nos transformou como casal, como pessoas e como família.
No dia 09 de agosto de 2018 eu iniciei os pródromos - que é a primeira fase do trabalho de parto. É apenas o corpo "ensaiando" como será o processo. Tomei um banho bem quente, esperando que o trabalho de parto iniciasse (eu estava com 38 semanas e três dias de gestação). Mas acabou passando ao longo do dia. Como eu havia estudado todo processo durante a gestação, estávamos tranquilos, pois sabia o que estava acontecendo e além disso estávamos amparados de excelentes profissionais que me deram todo apoio necessário.
No dia 18 de agosto 2018 (sábado) as contrações voltaram e meu tampão saiu. Fiquei em alerta, pois era mais um sinal de que o corpo estava em movimento, eu já estava com dois dedos de dilatação e com contrações leves. No domingo (dia 19), após o almoço, vi que minha barriga ficava cada vez mais dura e que as contrações estavam aumentando, tanto de tempo quanto de intensidade. Ao longo do dia elas seguiram aumentando, a bolsa rompeu mas não estourou completamente: tudo ocorreu aos poucos.
Às 20:45hrs chegamos no hospital, minha obstetra me examinou e disse para eu ir para casa, pois era bem provável que iria entrar em trabalho de parto. Caso isso não acontecesse até às 12h da segunda-feira, eu teria que induzir. Fomos para casa, chamamos a doula e às 23:30hrs as contrações ficaram ainda mais seguidas e mais longas. Meu corpo inteiro se movimentava para dar à luz ao Pedro. Durante a madrugada, com velas acessas, ao som de Nando Reis e Anitta seguimos dançando, conversando, fazendo exercícios e massagens para aliviar a dor.
Às 6h da manhã eu entrei em trabalho ativo de parto, com contrações mais longas em um espaço de tempo mais curto. Fomos para o hospital - era um dia muito frio, vento gelado, chuva, neblina! La eu seguia fazendo exercícios, caminhando, indo para o chuveiro, na bola, e a cada 1h eu dilatava mais uma membrana. Às 11h eu já estava exausta e ansiosa, mas às 11:30h entrei no expulsivo, optei em ficar sentada na banqueta e 12:31h Pedro nasceu, com 48cm, pesando 3.240kg
Minha placenta não nasceu, então precisei passar pelo procedimento de curetagem e somente às 18h fui liberada para ir para o quarto! Daian e Pedro ficaram comigo o tempo todo. No outro dia estávamos em casa, muito cansada ainda, porém fisicamente ótima. Sem dúvida foi a melhor escolha que fiz ao decidir ter um parto normal humanizado.
Estudo e preparação
Fotos: Arquivo pessoal
Olá, eu sou Raquel D'Agostini, mãe da Geórgia de 10 meses. A minha jornada com a humanização iniciou muito antes de eu pensar em engravidar, quando eu assisti pela primeira vez o documentário chamado “O Renascimento do Parto”. Ele expõe diversos motivos pelos quais a cirurgia cesariana só deveria ser indicada realmente para quando se faz necessária. Além disso, apresenta diversos relatos de mulheres que sofreram violência obstétrica durante seus partos (procedimentos não consentidos/não informados) e outras mulheres que foram enganadas pelos seus médicos quanto a indicações desnecessárias de cesarianas e todas as sequelas físicas e emocionais que este sistema deixou em suas vidas.
Em 2019, assim que eu descobri que estava grávida, a primeira coisa que eu fiz foi reassistir o documentário e também as outras edições. Sabia que para ter o meu parto humanizado e ser protagonista deste evento eu teria que estudar muito.
Apesar de eu fazer todo o meu pré-natal com uma gineco-obstetra fofa e muito querida do plano de saúde, que me solicitava todos os exames possíveis, sabia que ela não ficaria horas comigo em um parto normal por inúmeros motivos (o tempo investido em um parto é grande, o valor repassado pelo plano é pequeno e ainda tem a "inconveniência" deste evento cair em qualquer horário e data). Por isso, contei com o acompanhamento de uma doula.
Visto que a minha gestação era de baixo risco (mamãe e bebê sem complicações) e que eu me sentia segura em relação a parir em casa, optei por fazer um parto domiciliar planejado, com o apoio de uma equipe. E aí eu adoraria contar que eu tive meu parto humanizado, na sala da minha casa, na maior tranquilidade... Só que não.
Parto tem dessas coisas. A gente nunca sabe o que vai acontecer. Para fazer um parto domiciliar é necessário que a gestação seja de baixo risco e também que ela seja a termo (entre 38 e 42 semanas). Se o bebê resolver nascer antes (prematuro) ou depois (pós termo),esse bebê necessariamente tem que nascer no hospital (pois tanto bebês prematuros quanto bebês que passaram do tempo tem mais riscos de terem complicações e necessitarem de assistência ou monitoramento).
E aí que a dona Geórgia não dava sinal de nascer. Eu já estava com 41 semanas e tinha que ter um plano B caso a bebê não aparecesse até as 42. Foi então, que a enfermeira que me acompanhava sugeriu que eu tentasse falar com a Caroline Chiarelli – que assina esse post e tem uma equipe particular de parto humanizado em Guaporé, RS. Eu moro em Caxias do Sul-RS, a mais de 100km de distância. Ligamos e a Carol topou nos atender prontamente, sem nem me conhecer. O maior desafio? Convencer o marido a ir ter o bebê em outra cidade, em um hospital pequeno e sem avisar ninguém da família. Mas ele abraçou a causa e em uma segunda-feira à noite fomos para Guaporé e iniciamos a indução com a equipe na terça pela manhã.
Eu entrei em trabalho de parto as 13:30h da tarde, com contrações ritmadas e frequentes. Demorei a ter dilatação completa – entrei madrugada a dentro e fui ter dilatação total apenas as 08:00h da manhã do dia seguinte.Tive tudo que eu imaginava para o meu parto, métodos não farmacológicos para alívio de dor (bola, chuveiro, hidromassagem, barra de exercício, banqueta de parto, posicionamentos na barra, música...).
Mas e então: nasceu? Não! O parto foi arrastado, o expulsivo foi prolongado e a bebê não estava bem posicionada. Eu já estava há 4 horas no período expulsivo (período final mais dolorido e intenso) do trabalho de parto e nada dela vir. Pedi por intervenção. “- Tira essa criança, pelo amor de Deus!” (sim, a gente grita essas coisas).
Foi então, que a médica, com toda a tranquilidade e delicadeza do mundo, 23 horas de trabalho de parto depois, sugeriu:
- Raquel, o que acha de fazermos uma cesárea?
Por um momento eu tive um choque de realidade: cesárea? Mas como assim? Então eu não sou capaz de parir? Minha filha não iria nascer na natureza? Me senti impotente, incapaz. E então ela me explicou:
- Não, a bebê está tentando se posicionar. Mas não sabemos quanto tempo ela vai demorar, pode ser que daqui a 20 min ou daqui a 4, 6, 8 horas. Se tu quiseres, podemos continuar tentando e monitorando os batimentos fetais, mas percebo que você já está exausta.
Nessa hora eu entendi que a bebê estava bem, mas que não havia garantias que se eu continuasse com o trabalho de parto a bebê conseguiria se posicionar na pelve para nascer e poderia até entrar em sofrimento fetal dependendo de quanto tempo levasse. Então eu aceitei. Aceitei que havia chegado no meu limite de exaustão e que não queria encarar esse risco de continuar.
Eu já estava em sofrimento no final do trabalho de parto e a cirurgia é indicada nesses casos, onde os riscos superam os benefícios. E fui para o bloco cirúrgico. E entraram comigo, a doula, o marido e toda a equipe completa. A bebê nasceu minutos depois. Veio direto para o meu peito e ali ficou por uma hora (nossa golden hour mesmo na cesárea). Foi colocada pele a pele com o pai ainda no bloco cirúrgico e ficou nos meus braços durante toda a recuperação.
Foi intenso, foi suado e foi transformador. Se valeu a pena? Não tenho dúvidas. Faria tudo de novo! Nada melhor do que estar em paz com o processo, por ter feito tudo que estava ao meu alcance, por tentar oferecer a melhor experiência para a minha filha em um dos momentos mais importantes e marcantes: seu nascimento.