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Maternidade sincera: "A mãe que acabou de recém nascer jamais volta ser quem era"
VoltarO primeiro Maternidade Sincera de 2020 tem um toque especial. Convidamos a gineco-obstetra Dra. Juliana Zanrosso Caran pra conversar com a gente sobre o puerpério. Mas ela foi além. Num relato de muita delicadeza, ela, uma mamãe que há pouco nasceu, traduziu em palavras o que se passa com muitas mulheres que vivenciam esse momento. Temos certeza que você vai se identificar!
"Desde que me formei médica gineco-obstetra, nada me ensinou mais sobre puerpério do que a maternidade.
Em 2016, escrevi um texto intitulado 'Sou mãe de mil bebês e nunca engravidei'. Até aquele momento, meu convívio diário era com gestantes e puérperas através do meu trabalho como médica assistencialista em um hospital público. Sentia-me parte daquelas famílias recém-nascidas, acompanhando de perto as ansiedades, os medos, as tristezas e as alegrias. Mas voltava para casa todos os dias, sem que aqueles chorinhos me acompanhassem.
Em maio de 2018, ao constatar que aquela sonolência excessiva nada mais era do que minha primeira gestação, virei paciente e os papéis se somaram - sim, porque a obstetrícia já fazia parte de tudo que eu era, faz parte de quem eu sou. Escolhi a médica que nos acompanharia até o final - e eu ainda acho que os caminhos não se cruzam por acaso (eu adorava quando minhas pacientes reportavam a mim tal sentimento).
Tantos imaginam que aquelas transformações físicas e emocionais pelas quais as mulheres grávidas passam desaparecem com o nascimento do bebê. Mas a mãe que acabou de recém nascer jamais volta ser quem era. A gente muda o jeito de olhar - vê o mundo com mais esperança - e isso nem sempre é tão consciente. Prioridades ressignificadas, sonhos recalibrados e a certeza de que nada jamais será como antes.
As modificações fisiológicas da gestação são tantas que dão nome a livro didático. E, definitivamente, não há nada que ensine mais do que experienciar a teoria. Vou contar-lhes sem a devida pontuação, para lermos sem pausa mesmo, para puxarmos o fôlego no começo e tentar ir até o fim.
Parto vaginal, cesariana, episiotomia, pontos, curativos, dor, analgésicos, desconforto, cansaço, choro, do bebê, amamentação, ansiedade, boa pega, rachaduras, dor, lágrimas, da mãe, medo, amamentação, sono, do bebê, fome, da mãe, cansaço, visitas, edema, bexiga cheia, fralda cheia, primeiro o bebê, sono, da mãe, fome, do bebê, familiares, amamentação, exaustão, dormem, mãe e bebê, sonham, e amam. Repita...
O edema de membros inferiores não se restringe a eles: incham mãos e rosto e lábios. Incha o amor. As boas práticas orientam o contato pele a pele - transmitindo calor, aconchego e bem estar à vidinha recém vinda. Deixa bater compassado o coração da mãe recém nascida, que tantas vezes briga contra uma anemia difícil de tratar ou trava batalhas com uma hipertensão gestacional que insiste em ficar.
A fome e o sono disputam ferrenhamente com o cansaço e a vigília. Na dúvida do que resolver primeiro, a mamãe repousa as costas no sofá, ergue os pés por um instante. Então, o bebê acorda novamente. Tudo se repete centenas (talvez milhares de vezes),até que a gente aprende um jeito de segurar que o acalma, até que a gente entende que aquele choro é fralda cheia, até que a gente tende a acreditar que vai dar tudo certo (e vai!).
Há inúmeras maneiras de contar as histórias que foram compartilhadas comigo, seja como médica, seja como mulher, seja como mãe. Em todas elas, entretanto, têm ingredientes invariavelmente presentes, mesmo que em doses tão inconstantes. A ciência já conseguiu explicar diversos desses fenômenos, através de análises hormonais, metabólicas, genéticas, experimentais.
O que se vive cotidianamente depois da radical transformação do nascimento de um filho, no entanto, é completamente individual. Mesmo que todas nós tenhamos sentido medo em algum ou em muitos momentos. Mesmo que todas nós tenhamos nossa fisionomia modificada por um longo período, incluindo as olheiras, inevitáveis após noites mal dormidas, incluindo a queda de cabelo, a fraqueza nas unhas, ou a simples impossibilidade de ir à manicure. Mesmo que todas nós tenhamos passado por um momento de querer colo e não de dar colo, sabemos que podemos suportar - e que jamais imaginávamos que poderíamos amar tanto, e mais, e mais, e mais..."
Juliana Zanrosso Caran é mestre em Ciências Médicas pela UFRGS e médica obstetra com formação pela UCS e residência no Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Já atuou como médica ginecologista e obstetra na Fundação Universitária de Cardiologia, como coordenadora do serviço de obstetrícia do Hospital de Alvorada e diretora técnica do Hospital Materno Infantil Presidente Vargas.
Atualmente é gerente médica da Novamed Saúde em Porto Alegre/RS.
Juliana também é mãe da pequena Sophia, de um ano. Além disso, compartilha seu amor pela escrita através da página @vemaqui_vamosconversar.